Atualizado
O Natal na minha aldeia nos anos cinquenta e sessenta do século passado era muito diferente do atual. Bastante simples, mas centrado essencialmente na família. Não havia centros comerciais como hoje para fazer compras e as luzes que atualmente quase nos cegam eram inexistentes, porque não havia luz elétrica. Só em 1964 foi inaugurada, ato a que não tive o prazer de assistir, porque nesse ano viemos morar para os arredores de Lisboa.
Voltando ao Natal. Este processava-se de forma muito simples. Habitualmente passávamos a noite de Natal em casa dos meus avós maternos, sentando-nos depois do jantar em redor da lareira, onde a minha avó fazia as tradicionais filhoses, num grande tacho com azeite sobre o lume, com a ajuda de minha mãe. Era um ritual muito desejado e aconchegante, porque as noites de dezembro eram extremamente frias e ali o calor aquecia-nos o corpo e a alma. Depois de fritas as filhoses iam sendo colocadas num grande alguidar onde eram polvilhadas com açúcar e canela.
Tão boas que eram ainda quentinhas!
A noite ia passando e o sono ia-se apoderando de nós (eu e minhas duas irmãs) e já a altas horas da noite o meu avô acompanhava-nos a casa, uma vez que o meu pai, que trabalhava em Lisboa, nem sempre era dispensado para poder estar presente nestes dias festivos.
Chegadas a casa e antes de nos deitarmos íamos até à cozinha acompanhadas pela minha mãe, onde colocávamos os sapatinhos na lareira para que o Menino Jesus, que havia de descer pela chaminé, deixasse os tão ansiados presentes, que no nosso caso eram bem escassos e modestos.
De manhã, mal acordávamos, lá íamos a correr ver se o Menino Jesus não se tinha esquecido de nós.
Os melhores presentes eram sempre os vestidos novos, muito quentinhos, que a minha mãe nos fazia e que estreávamos nesse dia para ir à Missa de Natal logo pela manhã.
Antes ainda corríamos as ruas e o centro da aldeia, que era próximo, para admirar os presépios que os comerciantes expunham nas montras das suas lojas. Qual deles o mais bonito. Eu gostava imenso de apreciar os detalhes ao ínfimo pormenor: o Menino Jesus deitado nas palhinhas, Nossa Senhora e São José vigiando, o burro e a vaca aquecendo o Menino, os pastores e as ovelhas, os lagos, as pontes, tudo salpicado de farripas de algodão branco, imitando a neve. Até parecia que se ouviam os anjos a cantar: "glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade".
O Natal de que me recordo, na minha infância, era simplesmente, assim.... Sem brinquedos, sem árvore de natal, mas com muito amor e alegria no seio da família.
Santo e Feliz Natal!
Próspero Ano Novo!
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Imagens (filhoses)
Daqui (Blog dos Forninhenses)
Receita (Gentileza da Paula do "Blog dos Forninhenses")
Aqui
Presépio