quarta-feira, 22 de agosto de 2018

O verão na minha aldeia (IV)


No decorrer do verão  tem-me vindo à memória como eram passados os dias na minha aldeia, nos longínquos anos sessenta do século passado, durante a enorme canícula do Estio.
Eram dias excepcionalmente quentes e duros para quem trabalhava no campo. O meu avô costumava levantar-se de madrugada para regar as hortas e só pelo fim da tarde voltava de novo a essas tarefas.
Era a época da rega do milho, do feijão verde, do tomate, pepino, melão e melancia!
(E como era tão bom o gaspacho feito pelo meu avô com os produtos da horta salpicados com orégãos, assim como o refresco de café e vinagre feito pela minha avó)! Saudades desses tempos.
As férias escolares pareciam uma eternidade. Três meses num tempo em que ainda não havia televisão nem outras distracções, a não ser as brincadeiras da época, que eram bem saudáveis, o tempo eternizava-se e eu estava sempre ansiosa para que chegasse o dia sete de outubro, dia em que se reiniciavam impreterivelmente as aulas. Feitas as cópias passadas pela professora que eram imensas (eu despachava tudo em quinze dias;)), sobrava-me imenso tempo que eu ocupava nesses dias a brincar com as minhas irmãs em casa . Pela tardinha um grupo de mães, em que se incluía a minha, reuniam os filhos e lá íamos nós a banhos numa pequena praia no rio Tejo. 
À noite como as casas ficavam insuportavelmente quentes, porque a aragem, se a havia, era irrespirável,  era costume as mulheres da aldeia sentarem-se nas soleiras das portas a conversar até altas horas da noite. Muitas histórias de lobisomens e afins eu ouvi sentada aos pés de minha mãe.
Em traços largos, era assim o verão na aldeia que me viu nascer, que apesar do calor me deixou gratas recordações.


Ailime
22.08.2018
Imagem Google