domingo, 5 de abril de 2020

Ofícios da minha aldeia 2 (XIII)

Na continuação do artigo sobre os ofícios da minha aldeia e para finalizar vou  enumerar mais alguns, cujas  atividades  eram muito importantes para o desenvolvimento da freguesia naquela época, finais dos anos 50 e inícios dos anos 60 do século passado. Hoje falarei do ferrador, do albardeiro, dos sapateiros, dos pescadores e do fabrico dos picaretos. 


Não muito longe do centro da aldeia, num enorme barracão anexo a uma residência existia  a oficina do ferrador.
Sempre que por ali passava gostava de observar o ferrador a alisar e, porventura, a limpar os cascos dos burros, éguas e mulas para finalmente pregar as ferraduras. Um trabalho árduo que decerto exigiria muita perícia dadas as características dos animais.


Ao lado da casa dos meus avós maternos vivia o ti Chico Albardeiro, que na sua oficina executava como o nome indica as albardas, os cabrestos e outros acessórios essenciais aos animais que ajudavam os donos nos trabalhos do campo.




Destaco também os  três sapateiros: o Ti Parente, o Ti Augusto e o ti Zé Duarte,  que manufaturavam todo o tipo de calçado para os habitantes da aldeia e que também percorriam as feiras para calçar toda uma população que vivia em lugares mais recônditos do concelho.  Estes eram já na época fonte de emprego na freguesia.
Recordo que, naqueles tempos em que o dinheiro era parco, se mandava consertar os sapatos  e colocar meias solas.



A aldeia onde nasci é formada por várias colinas, de onde se avista o Rio Tejo, que lhe corre nas entranhas. As vistas são deslumbrantes e não há ninguém que lhe seja indiferente. Todos amamos  o Tejo.

PESCA NO RIO TEJO JUNTO A ALVEGA - ABRANTES ABRIL 2017 - YouTube

Nos anos em que as águas ainda não eram poluídas havia bastantes pescadores, que ali ganhavam o seu sustento e proporcionavam aos seus conterrâneos variedade e qualidade de peixe, que esta vossa amiga, logo em pequenina, se habituou a apreciar.
Ao lado da casa de meus pais morava o Ti Vermelho, um pescador, a quem a minha mãe comprava o peixe logo pela manhã, quase acabado de pescar. 
No inverno, no tempo das cheias, o sável e a saboga faziam as delícias dos apreciadores.
Depois não faltavam as bogas, os barbos, os barbiscos, as carpas, as lampreias e as enguias.
Estes são alguns dos que mais recordo.
Ainda sobre o Ti Vermelho gostava imenso de o ver consertar as redes, trabalho que efetuava num pequeno recanto junto à casa.

Consertando a rede Foto de Reynaldo Monteiro | Olhares ...

Por fim refiro os picaretos, barcos de pesca, que  eram construídos pelo ti Fontes, calafate e pescador que faleceu  em 2017, com 90 anos, que dedicou a sua vida inteira ao Tejo. Construiu mais de 300 picaretos
.
Picareto
O Ti Fontes

Os picaretos irão fazer parte dum Núcleo Museológico do Concelho dedicado a artes e ofícios relativos à pesca, nomeadamente da minha aldeia.

6 comentários:

  1. Que interessantes e lindas tuas lembranças ainda tão nítidas,Ailime! Hás de colocar tudo em um livro,aprioveita que estás com capítulos prontos não? E quanta coisa mudou! Tempos idos...beijos,tudo de bom,chica

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  2. Boa noite de Domingo com paz e saúde, querida amiga Ailime!
    Que lindeza!
    Chica acima reforçou a ideia do livro que já tinha também lhe digo.
    Não pode deixar passar uma belíssima e bem narrada história, amiga.
    Claro que tem para um livro lindo de poesia também como já cheguei conversamos.
    Avante! Aproveite a oportunidade, querida, do estar à disposição em casa...
    Tenha uma Semana Santa abençoada!
    Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem
    🍀🙏😇💚🕊️😘

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  3. Boa noite Alime.
    Dá gosto ler as suas memórias.
    Há pouco mais de 30 anos, Portugal era um país muito pouco desenvolvido onde a maioria das pessoas vivia com grandes dificuldades, sem luxos, nem consumismos.
    Na minha aldeia, também houve alguns sapateiros, mas eu já só me lembro do ti Joaquim sapateiro, mas das profissões manuais, sei que houve também na aldeia a de tamanqueiro, pois houve um tempo em que os sapatos não eram para todos, então havia pessoas que encoiravam calçado de pau: os tamancos e tamancas, era normal crianças e graúdos andarem de tamancos ou até descalços!
    Peixes frescos, mesmo frescos, eram raros. Lá havia um ou outro pescador-amador que apanhava umas bogas e uns barbos no rio ou ribeira, mas estar horas a fio a olhar para a minhoca não dava comida a muitos.
    O meu pai sempre conta que quando esvaziavam algum açude para reparação (e dos muitos existentes havia sempre um a necessitar dela) é que lá ia um magote de rapazes e homens apanhar peixes. Nesse dia, sim, dava comida a muitos.
    Ferrador, foi uma profissão que não lembro fazer parte do dia a dia da aldeia.
    Bjs, foi muito bom relembrar.

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  4. Preciosas lembranças de fatos ricos em detalhes. Gostei muito de conhecer você mais de perto com as tais recordações. Fotos também muito significativas.
    Beijinhos e uma semana abençoada, guardada pelo Amado Deus...

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  5. Que interessante e essas lembranças tão bem escritas que gostei imenso de ler.
    beijinhos
    :)

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  6. P elo Amor derramado

    A paz enfim reinou

    S ó nos resta o Amado

    C om todo esplendor

    O sol nos vem calado

    A contemplar tanto Amor.

    Boa Páscoa, querida amiga Ailime!
    Bjm festivo,carinhoso e fraterno

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