Na continuação do artigo sobre os ofícios da minha aldeia e para finalizar vou enumerar mais alguns, cujas atividades eram muito importantes para o desenvolvimento da freguesia naquela época, finais dos anos 50 e inícios dos anos 60 do século passado. Hoje falarei do ferrador, do albardeiro, dos sapateiros, dos pescadores e do fabrico dos picaretos.
Não muito longe do centro da aldeia, num enorme barracão anexo a uma residência existia a oficina do ferrador.
Sempre que por ali passava gostava de observar o ferrador a alisar e, porventura, a limpar os cascos dos burros, éguas e mulas para finalmente pregar as ferraduras. Um trabalho árduo que decerto exigiria muita perícia dadas as características dos animais.
Destaco também os três sapateiros: o Ti Parente, o Ti Augusto e o ti Zé Duarte, que manufaturavam todo o tipo de calçado para os habitantes da aldeia e que também percorriam as feiras para calçar toda uma população que vivia em lugares mais recônditos do concelho. Estes eram já na época fonte de emprego na freguesia.
Recordo que, naqueles tempos em que o dinheiro era parco, se mandava consertar os sapatos e colocar meias solas.

A aldeia onde nasci é formada por várias colinas, de onde se avista o Rio Tejo, que lhe corre nas entranhas. As vistas são deslumbrantes e não há ninguém que lhe seja indiferente. Todos amamos o Tejo.
Nos anos em que as águas ainda não eram poluídas havia bastantes pescadores, que ali ganhavam o seu sustento e proporcionavam aos seus conterrâneos variedade e qualidade de peixe, que esta vossa amiga, logo em pequenina, se habituou a apreciar.
Ao lado da casa de meus pais morava o Ti Vermelho, um pescador, a quem a minha mãe comprava o peixe logo pela manhã, quase acabado de pescar.
No inverno, no tempo das cheias, o sável e a saboga faziam as delícias dos apreciadores.
Depois não faltavam as bogas, os barbos, os barbiscos, as carpas, as lampreias e as enguias.
Estes são alguns dos que mais recordo.
Ainda sobre o Ti Vermelho gostava imenso de o ver consertar as redes, trabalho que efetuava num pequeno recanto junto à casa.

Por fim refiro os picaretos, barcos de pesca, que eram construídos pelo ti Fontes, calafate e pescador que faleceu em 2017, com 90 anos, que dedicou a sua vida inteira ao Tejo. Construiu mais de 300 picaretos
O Ti Fontes
Os picaretos irão fazer parte dum Núcleo Museológico do Concelho dedicado a artes e ofícios relativos à pesca, nomeadamente da minha aldeia.