Desde
criança que os idosos me cativaram e sempre convivi com eles com muito carinho
e destaco os vizinhos dos meus avós com os quais privava mais de perto.
Apreciava muito as suas conversas e histórias de vida que me deixavam fascinada
e muitas vezes pensativa, porque não entendia determinados factos que só mais
tarde viria a deduzir a que se referiam.
Recordo que a maioria eram trabalhadores
do campo (homens e mulheres) que trabalhavam até muito tarde. Não havia
aposentações e só quando as forças começavam a faltar é que ficavam em casa.
Naqueles tempos as famílias
eram habitualmente numerosas e era estabelecida a periocidade em que ficariam na casa de cada filho, assim como a prestação de cuidados e alimentos.
Repartiam os seus teres e haveres e os filhos cuidavam deles com tudo o que podiam para o seu bem-estar. Muitos ficavam nas suas próprias casas, outros iam morar para casa de seus filhos. Outros ainda permaneciam uma semana, um mês, rotativamente em casa de cada filho.
Recordo-me que às senhoras mais
idosas eram dados, para passar o tempo, pedaços de tecidos de roupas que já não
eram usadas, que elas recortavam em tiras, que iam cosendo e com os quais dobavam
novelos de trapo, como eram chamados. Esta atividade era normalmente efetuada sentadas
à porta de casa aproveitando os raios do sol nos dias mais frios.
Esses novelos mais tarde eram
trabalhados nos teares (de que já falei aqui) e
davam origem a mantas e colchas que todas as famílias usavam.
Era uma forma de reutilizar o
que aparentemente já não tinha préstimo.
Veio-me isto à ideia, quando há
dias vi junto dum contentar do lixo um pedaço de tecido abandonado e lembrei-me
do tanto desperdício que atualmente produzimos!
Compreendo que a vida hoje é
diferente e há muita oferta e que muitas de nós não teremos tempo para fazer os
tais novelinhos com os quais poderíamos tecer tapetes e muitas outras coisas de
utilidade doméstica.
É mais prático ir aos armazéns
dos chineses onde encontramos os novelos de trapilho que vieram substituir esta
atividade.
Ailime
25.02.2021
Recordações de um passado que não esquece, Ailime.
ResponderEliminarEu só vivi dois anos no Alentejo, e não me lembro se as senhoras idosas faziam coisas interessantes com estes novelos e se existia este hábito por lá. Depois, vim para Lisboa e nada disto eu presenciei.
Abraços e saúde.
Tão lindo de ler e lembrar de tempos passados.Esses novelinhos fizeram parte de minha vida com minha mãe, que estava sempre às voltas com lãs.Era uma verdadeira artista nessa arte. Deu saudades! E realmente, tantopode ser feito com restinhos de panos ou lãs... beijos, tudo de bom,chica
ResponderEliminarGostei muito destas tuas recordações, que também as tenho parecidas.
ResponderEliminarHoje desperdiçamos tantas coisas que poderiamos tão bem aproveitar e reciclar! O mundo muda e nem sempre tudo é para melhor.
Bom fim-de-semana!
Beijinhos.
Olá Ailime!
ResponderEliminarAdorei ler este seu texto, desde a história dos idosos de antigamente até aos novelos!
Muito interessante, tenho tido a preocupação de reciclar tecidos e roupa e tenho tentando idealizar uma maneira de os reutilizar, inclusive estou a fazer uma fronha de almofada, mas nunca me lembro dos trapihos.
Beijinho e bom fim de semana!
Boa tarde Ailime,
ResponderEliminarDestes trabalhos também me lembro bem, havia muitas mulheres, entre elas a minha mãe e tias, que preparavam tiras de tecidos para fazer mantas, colchas, taptes e passadeiras que eram encomendadas às tecedeiras, mas como com a idade as forças vão faltando, quando a última a tecedeira deixou de fazer esse trabalho, deixaram também de reaproveitar os tecidos...depois vieram os chineses...
A minha mãe ainda tem umas mantas, que acho ainda me vão pertencer um dia :-)
Beijinhos.
Olá, querida amiga Ailime!
ResponderEliminarQue post mais lindo!
Como já fiz tapetes de retalhos como chamamos aqui. E se pode fazer trabalhos artisticos belos. Também tive há várias colchas de retalhos que combinando com o crochê, ficam uma belezura ao meu gosto.
Quando soube que aí uma professora se aposentar com 65 nos dias atuais, fiquei pasma!
Que tempo enorme!
Aqui era 25 anos de serviçono meu tempo ou 55 de idade.
Não sei como aguentariíamos aqui na rede pública de ensino...
Gosto muito das histórias da sua aldeia que dará um belo livro, na certa.
Poste mais aqui no blog. Adoro ler.
Esteja bem, amiga, proteja-se!
Beijinhos
🍀🙏🕊️🏡💐🙌😘
Olá, Ailime
ResponderEliminarAdorei ler este seu texto. São recordações valiosas
de um tempo não muito longínquo mas que parece já
não se repetir. Este como outros costumes.
Beijinhos
Olinda
Recordando para "matar saudade"!
ResponderEliminarOs meus novelos foram doados, o que havia de fazer já fiz!... Não penso voltar a "crochetear"! 🤗... Bj e gosto das lembranças!
Foi bom ler e recordar.
ResponderEliminarCheguei a ajudar a minha avó a fazer esses novelinhos e as mantas ficavam lindas depois de virem do tear.
Beijinhos Ailime
Que linda recordação. Me fez lembrar de minhas avós. É verdade amiga se aproveitarmos mais as coisas que temos. De um jeito ou de outro. A vida seria mais bela e amena. Bom fim de semana querida
ResponderEliminarO seu pertinente texto, para além de falar do aproveitamento de materiais, o que hoje chamamos de reciclagem, refere ainda a importância do aproveitamento dos tempos livres.
ResponderEliminarAbraço solidário.
Juvenal Nunes
Tempo em que se fazia o que devia ser feito, sem que a palavra reciclar nos viesse impor uma obrigação. Tudo conforme os costumes
ResponderEliminare as necessidades. Seria tão bom voltar a esses tempos!
Como bem diz, talvez agora fosse altura de repensarmos as nossas prioridades e dedicássemos algum do nosso tempo a essas tarefas. :)
Beijos
Olinda
Oi, Ailime!
ResponderEliminarBastante curiosa essa técnica. Fiquei interessada!! :) Ah, que linda sua postagem sobre Ti Gaiata. Outros tempos, outras obrigações... Não podemos deixar morrer as histórias antigas e todos os ensinamentos que culminou em tudo o que hoje temos de facilidades. O trabalho manual então, se hoje é visto como terapia, no passado contribuía para reaproveitamento (economia), ornamento e necessidades do dia a dia.
Boa semana!!
Beijus,
Que texto e memórias deliciosas! Cá cheguei ao acaso e já me dispus a ficar. Vi que você escreve de Sintra... meu Deus, que cidade mágica! que vontade de voltar!
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