A Ti Gaiata, como todos na aldeia a chamavam, era uma senhora que além de tecedeira era também parteira. Ainda hoje não sei se este era o seu verdadeiro nome ou se era alcunha.
Só sei que era uma pessoa muito simpática e alegre e cheia de genica. Era viúva e vestia sempre de escuro, com um lenço preto atado na cabeça e sempre com um sorriso nos lábios.
Lembro-me de a ver no seu tear confecionando bonitas colchas de lã ou simplesmente mantas de trapos. Como ela morava perto da nossa casa, por vezes ia visitá-la, porque gostava de a ver manejar os pedais do tear ao mesmo tempo que fazia deslizar o pente com o fio em constantes movimentos, para cá e para lá... Assim nasciam lindas obras de arte.
Que me recorde era a única parteira da aldeia e no dia em que eu nasci teve de fazer dois partos, o que não seria muito vulgar num meio tão pequeno. O meu durante o dia e à noite o de um robusto rapaz, de seu nome Luís.
Ainda não tinham passado dois anos, ao nascer do sol de um dia de maio, colocou-me no colo uma mana, eu que acordara no berço com os olhos muitos abertos, decerto ao sentir algum alvoroço no quarto. Claro que não me recordo de nada, tendo sido a minha mãe que mais tarde me contou. A quem me perguntasse quem me tinha dado a menina, a minha resposta era sempre "Ti Gaiata"!
Era também a Ti Gaiata que nos perfurava as orelhas com a sua mestria para o uso dos brincos.
O método era bastante doloroso e a minha mãe arrependeu-se por não ter posto fim a esta tradição no que respeita a suas três filhas.
Entre o tear e os partos a Ti Gaiata preenchia assim os seus dias na aldeia.
Como eu, muitos dos meus conterrâneos lhe estamos eternamente gratos, por nos ter ajudado a ver a luz do dia.