sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

A vida na aldeia (II)


A vida na aldeia era essencialmente rural. A pequena propriedade era dominante e quase todos os seus habitantes tinham um pequeno terreno (nalguns casos mais) onde cultivavam os produtos que serviam para a sua alimentação. Eram terras também ricas em pinhais, hoje praticamente devastados pelos últimos e terríveis incêndios que se fizeram sentir no ano passado.
Os campos tinham como principais cultivos o milho, o centeio, a batata e todos os legumes e vegetais essenciais na alimentação mediterrânica. Das oliveiras, que existiam também em grande abundância, era extraída a azeitona com que se produzia o saboroso azeite nos três lagares existentes na aldeia. As vinhas também se cultivavam, não em grande quantidade, mas o suficiente para saborearmos os seus deliciosos cachos de uva havendo também alguns produtores de vinho.
No que respeita a fruta não era muito abundante existindo essencialmente figueiras, laranjeiras, macieiras e ameixoeiras. O melão e melancia eram bastante cultivados, uma vez que os terrenos a isso se prestavam. Com o passar do tempo foram-se experimentando outras árvores de fruto que deram bons resultados.
Não posso deixar de falar de uma das principais fontes que contribuía para a alimentação do povo da minha aldeia: o rio Tejo que a banha num serpenteado azul que se pode observar, a perder de vista, praticamente de toda a região. O Tejo naqueles tempos era riquíssimo em peixe variado de que destaco: sável, lampreia, enguia, saboga, barbo, barbisco, boga e fataça. Por esse motivo existiam na aldeia muitos pescadores que, no Tejo, utilizando os seus picaretos*, tinham o seu ganha-pão.
Hoje, infelizmente, o rio encontra-se altamente poluído e é com grande tristeza que o afirmo. Os peixes têm morrido aos milhares e há zonas do rio que estão praticamente mortas. Tudo isto acontece pela inconsciência e ganância do Homem que põe em primeiro lugar o lucro em detrimento da defesa do meio ambiente e consequentemente da saúde das populações. Existe, desde há vários anos, um homem - o Guardião do Tejo - que tem vindo a denunciar a situação e que neste momento está em vias de ver o seu sonho realizado, um sonho de todos os que amam o Tejo,  a sua recuperação.

*barco típico de pesca do rio Tejo.

Picareto - Foto de Arlindo Marques


Texo: Ailime
02.02.2018
Fotos Google