A vida na aldeia era essencialmente rural. A pequena
propriedade era dominante e quase todos os seus habitantes tinham um
pequeno terreno (nalguns casos mais) onde cultivavam os produtos que serviam
para a sua alimentação. Eram terras também ricas em pinhais, hoje praticamente
devastados pelos últimos e terríveis incêndios que se fizeram sentir no ano
passado.
Os campos tinham como
principais cultivos o milho, o centeio, a batata e todos os legumes e vegetais
essenciais na alimentação mediterrânica. Das oliveiras, que existiam também em
grande abundância, era extraída a azeitona com que se produzia o saboroso
azeite nos três lagares existentes na aldeia. As vinhas também se cultivavam,
não em grande quantidade, mas o suficiente para saborearmos os seus deliciosos
cachos de uva havendo também alguns produtores de vinho.
No que respeita a fruta não
era muito abundante existindo essencialmente figueiras, laranjeiras, macieiras
e ameixoeiras. O melão e melancia eram bastante cultivados, uma vez que os
terrenos a isso se prestavam. Com o passar do tempo foram-se experimentando
outras árvores de fruto que deram bons resultados.
Não posso deixar de falar de
uma das principais fontes que contribuía para a alimentação do povo da minha
aldeia: o rio Tejo que a banha num serpenteado azul que se pode observar, a
perder de vista, praticamente de toda a região. O Tejo naqueles tempos era
riquíssimo em peixe variado de que destaco: sável, lampreia, enguia, saboga,
barbo, barbisco, boga e fataça. Por esse motivo existiam na aldeia muitos
pescadores que, no Tejo, utilizando os seus picaretos*, tinham o seu ganha-pão.
Hoje, infelizmente, o rio
encontra-se altamente poluído e é com grande tristeza que o afirmo. Os peixes
têm morrido aos milhares e há zonas do rio que estão praticamente mortas. Tudo
isto acontece pela inconsciência e ganância do Homem que põe em primeiro lugar
o lucro em detrimento da defesa do meio ambiente e consequentemente da saúde
das populações. Existe, desde há vários anos, um homem - o Guardião do
Tejo - que tem vindo a denunciar a situação e que neste momento está em vias de
ver o seu sonho realizado, um sonho de todos os que amam o Tejo, a sua recuperação.
*barco típico de pesca do rio Tejo.
Texo: Ailime
02.02.2018
Fotos Google