A Ti Gaiata, como todos na aldeia a chamavam, era uma senhora que além de tecedeira era também parteira. Ainda hoje não sei se este era o seu verdadeiro nome ou se era alcunha.
Só sei que era uma pessoa muito simpática e alegre e cheia de genica. Era viúva e vestia sempre de escuro, com um lenço preto atado na cabeça e sempre com um sorriso nos lábios.
Lembro-me de a ver no seu tear confecionando bonitas colchas de lã ou simplesmente mantas de trapos. Como ela morava perto da nossa casa, por vezes ia visitá-la, porque gostava de a ver manejar os pedais do tear ao mesmo tempo que fazia deslizar o pente com o fio em constantes movimentos, para cá e para lá... Assim nasciam lindas obras de arte.
Que me recorde era a única parteira da aldeia e no dia em que eu nasci teve de fazer dois partos, o que não seria muito vulgar num meio tão pequeno. O meu durante o dia e à noite o de um robusto rapaz, de seu nome Luís.
Ainda não tinham passado dois anos, ao nascer do sol de um dia de maio, colocou-me no colo uma mana, eu que acordara no berço com os olhos muitos abertos, decerto ao sentir algum alvoroço no quarto. Claro que não me recordo de nada, tendo sido a minha mãe que mais tarde me contou. A quem me perguntasse quem me tinha dado a menina, a minha resposta era sempre "Ti Gaiata"!
Era também a Ti Gaiata que nos perfurava as orelhas com a sua mestria para o uso dos brincos.
O método era bastante doloroso e a minha mãe arrependeu-se por não ter posto fim a esta tradição no que respeita a suas três filhas.
Entre o tear e os partos a Ti Gaiata preenchia assim os seus dias na aldeia.
Como eu, muitos dos meus conterrâneos lhe estamos eternamente gratos, por nos ter ajudado a ver a luz do dia.
Linda homenagem e belo exercício de memória esse! Quantas vidas ela trouxe ao mundo e tomara seja sempre recordada,com tu fizeste! LINDO! bjs praianos,chica
ResponderEliminarBoa noite, querida amiga Ailime!
ResponderEliminarQue interessante! Nasci de parteira e aqui me lembro de como me contaram...
Nome engraçado e, mesmo que seja alcunha, está diferente como o cargo sugere.
Gostei do final tsmbem e agradeço a Deus por me ter dado a possibilidade de ver a luz da vida.
Que bonito é esse blog seu, amiga. Gosto muito de memórias.
Seja muito feliz e abençoada junto aos seus amados!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem
🙏🌹🌺⚘🌸🌻🌼🌷💐🙏
Bonitas memórias, gostei de vir a este cantinho escondido. Uma celebração da vida, de nascimentos e de quem nos inspirou e fez. Beijinhos
ResponderEliminarQue linda postagem e homenagem, Ailime! Lembranças preciosas de um tempo inesquecível...
ResponderEliminarSabe, também eu e marido viemos ao mundo através de uma parteira, a mesma, acredita?! O mundo dá voltas...
Bjs e bom fim de semana...
Olá:- Uma mulher abençoada
ResponderEliminar.
Saudações poéticas
*** Mulher, fio de amor, no equilíbrio da vida ***
Naquele tempo não havia médicos, nem maternidades como há hoje, nem tão pouco havia estradas por onde pudessem ser transportadas as parturientes de então, pelo que o nascimento das crianças tinha de ser resolvido na aldeia e felizmente sempre com êxito graças a mulheres como a Ti Gaiata.
ResponderEliminarA minha parteira foi a minha avó paterna, mas sei que durante muitos anos a parteira da aldeia era a minha trisavó e depois a minha bisavó (três gerações de parteiras).
Pelas suas mãos experimentes, de muito saber, passaram muitas crianças nascidas ao longo de várias décadas. Contava a minha avó, que à sua avó, as crianças que "acanou", quando a viam, pediam-lhe a bênção!
Beijinhos, adorei o texto.
Olá, querida Ailime!
ResponderEliminarConta-nos, sempre, histórias reais mto interessantes, bem escritas e que nos prendem do princípio ao fim.
Creio que em muitas aldeias do nosso país existia sempre uma senhora, que fazia os partos e assistia mãe e recém nascido.
Figura típica da aldeia, que merecia, julgo eu, o carinho e o agradecimento de todos. Excelente e carinhosa homenagem, a da Ailime. Gostei mto de a ler.
Beijinhos e bom fim de semana.
Linda homenagem a Ti Gaiata. Gostei de ler estas memórias. Na minha terra também havia senhora que trabalhava no campo e era parteira, era a Ti Carmo muito simpática ,ela dizia que todos esses bebés eram netos dela.
ResponderEliminarBjs
Muito lindo! Nas aldeias havia sempre alguma curiosa-faz-de-tudo a quem as pessoas podiam recorrer. Tempos inocentes estes que evoca e que faz tão bem à alma recordar.
ResponderEliminarBoa semana, amiga Ailime!
Beijinhos.
Mais do que a inteligência, precisamos da afeição e doçura.
ResponderEliminar(Charles Chaplin)
Feliz Páscoa, amiga querida Ailime!
Bjm carinhoso e pascal
Memórias que gostei de ler... Bj
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