Desde
criança que os idosos me cativaram e sempre convivi com eles com muito carinho
e destaco os vizinhos dos meus avós com os quais privava mais de perto.
Apreciava muito as suas conversas e histórias de vida que me deixavam fascinada
e muitas vezes pensativa, porque não entendia determinados factos que só mais
tarde viria a deduzir a que se referiam.
Recordo que a maioria eram trabalhadores
do campo (homens e mulheres) que trabalhavam até muito tarde. Não havia
aposentações e só quando as forças começavam a faltar é que ficavam em casa.
Naqueles tempos as famílias
eram habitualmente numerosas e era estabelecida a periocidade em que ficariam na casa de cada filho, assim como a prestação de cuidados e alimentos.
Repartiam os seus teres e haveres e os filhos cuidavam deles com tudo o que podiam para o seu bem-estar. Muitos ficavam nas suas próprias casas, outros iam morar para casa de seus filhos. Outros ainda permaneciam uma semana, um mês, rotativamente em casa de cada filho.
Recordo-me que às senhoras mais
idosas eram dados, para passar o tempo, pedaços de tecidos de roupas que já não
eram usadas, que elas recortavam em tiras, que iam cosendo e com os quais dobavam
novelos de trapo, como eram chamados. Esta atividade era normalmente efetuada sentadas
à porta de casa aproveitando os raios do sol nos dias mais frios.
Esses novelos mais tarde eram
trabalhados nos teares (de que já falei aqui) e
davam origem a mantas e colchas que todas as famílias usavam.
Era uma forma de reutilizar o
que aparentemente já não tinha préstimo.
Veio-me isto à ideia, quando há
dias vi junto dum contentar do lixo um pedaço de tecido abandonado e lembrei-me
do tanto desperdício que atualmente produzimos!
Compreendo que a vida hoje é
diferente e há muita oferta e que muitas de nós não teremos tempo para fazer os
tais novelinhos com os quais poderíamos tecer tapetes e muitas outras coisas de
utilidade doméstica.
É mais prático ir aos armazéns
dos chineses onde encontramos os novelos de trapilho que vieram substituir esta
atividade.
Ailime
25.02.2021