terça-feira, 27 de agosto de 2019

A Festa da minha aldeia (XI)


As festas da minha aldeia continuam a efetuar-se no verão, no mês de agosto, em honra de Nossa Senhora das Dores, padroeira da freguesia. São cerca de três dias no fim de semana próximo de 15 de agosto, dia da Senhora da Assunção.
Lembro-me que, na década de 60, alguns dias antes as ruas eram juncadas e enfeitadas com bandeiras coloridas, sinal de que a festa se aproximava. A Festa como era chamada era um grande acontecimento na época para a população local e também para os muitos forasteiros que ali acorriam. Durante o ano não havia distrações e as expetativas focavam-se naqueles dias que eram bastante animados.
A abertura do grande dia, logo pela manhã, era feita por lançamento de foguetes estrondosos e pela Banda do concelho. Ao som de bombos e outros instrumentos lembro-me de acordar sobressaltada, mas logo me lembrava que era o início da Festa. Ao mesmo tempo que a banda percorria as ruas da aldeia ia parando junto das portas para o peditório habitual, que penso se destinaria a ajudar nas despesas.
Como hoje já havia os comes e bebes e no local, centro do arraial, eram dispostas imensas mesas e cadeiras onde cada um se ia sentando tentando escolher o melhor lugar em frente do palco improvisado, onde iriam desfilar os artistas contratados e se efetuavam os bailes ao som de conjuntos musicais. Estes animavam as tardes e os artistas atuavam à noite.
A quermesse com as suas rifas era também um local onde os mais miúdos gostavam de acorrer, "para ver se saía alguma coisa"!
Como só em 1964 a eletricidade foi inaugurada, até então utilizavam-se geradores elétricos e era uma alegria ver tudo iluminado. Por vezes havia o inevitável apagão...
A Festa era também o pretexto para as raparigas estrearem vestidos, qual deles o mais bonito, para atraírem a si, quem sabe, o futuro marido. A confeção dos modelos, no maior dos segredos, efetuava-se bastante tempo antes, não fossem as três modistas da aldeia não darem conta do recado.
Posso dizer que as moçoilas da minha aldeia eram muito vaidosas e caprichosas com as suas roupas festivas.


No último dia, domingo, celebrava-se a Missa seguida da procissão onde seguiam os andores com as imagens dos santos e também com as fogaças, que percorria as ruas enfeitadas de juncos e flores. Nas janelas e varandas podiam apreciar-se bonitas colchas dependuradas.
No final da procissão era feito o leilão para venda das fogaças cujo produto revertia, neste caso, para a igreja.
A Festa estava a chegar ao fim !
À noite depois da atuação do último artista em palco éramos brindados com um grandioso fogo de artificio, com os morteiros a atroar pelos ares a saudade que já se sentia pelo final da Festa.

Ailime
27.08.2019
Fotos (in loco) retiradas do Google
Autor Arlindo Marques