Na minha aldeia, sendo sede de freguesia, existia uma enorme e diferenciada capacidade de criar. Muitos eram os artífices que se dedicavam às mais variadas artes ou ofícios, assim os classifico.
Para além das tecedeiras de que é exemplo a Ti Gaiata a que aludi no post anterior, existiam também os cesteiros, o peneireiro, o latoeiro, o forjador, o ferrador, os sapateiros e o saudoso Ti Fontes, um artista no fabrico dos picaretos (barcos), que ainda hoje navegam nas águas do Rio Tejo.
Quase no centro da aldeia já a caminho da Fonte Velha lembro-me de, quando ia visitar uma das minhas tias, pelo caminho, parava próximo do cesteiro que, com as suas ágeis mãos executava variados cestos em vime.
O peneireiro, um senhor muito simpático, que apesar da sua avançada idade ainda se encontra entre nós, contou-me há tempos no Lar da Freguesia, onde agora reside, que outrora havia percorrido muitas e muitas feiras com as suas peneiras e outros trabalhos, montado numa bicicleta! Atualmente tem como passatempo a escrita e posso testemunhar que escreve muito bem.
Ao fundo da Rua Principal e cortando à esquerda, próximo da Igreja, encontra-se a casa do Ti Latoeiro, como era conhecido, onde no rés do chão tinha a sua oficina. Era mestre no manusear da folha de flandres.
Na rua dos meus avós não muito longe da sua casa, vivia e trabalhava o forjador (ferreiro), senhor que sempre vi dentro da sua oficina e de quem nunca soube o nome. Só sei que, quando ali passava o via a martelar com muita energia pedaços de ferro incandescentes, com que ia moldando as enxadas e outros utensílios agrícolas.
Continua....
Ailime
09.05.2019
Imagens Google
(Procurei as que mais se assemelham às minhas memórias).